
Doação de Medula Óssea: Verdades e Mentiras
A falta de informação ainda é o principal tabu a ser quebrado na sociedade do século XXI, principalmente nos assuntos que norteiam a doação de medula óssea. É senso comum que esse ato pode ser a cura tão almejada por milhares de leucêmicos em todo o mundo. Entretanto, a maior parte da população não se cadastra no banco de doação por uma série de mitos ligados a esse gesto. Por essa razão, vamos esclarecer os maiores questionamento e dar luz às estórias que afastam as pessoas da doação.
Quem nunca ouviu algum mito sobre a doação de medula óssea? Algo do tipo: “Uma vez a minha vizinha me contou que o tio do amigo do primo dela foi doar medula óssea, o enfermeiro colocou a agulha no lugar errado e o tio dela ficou tetraplégico”. “Doar medula óssea? ‘Tá doido’?! Dói mais que chutar quina de mesa com o dedinho do pé”. “Eu que não doou medula óssea. Se um dia alguém da minha família precisar eu não vou poder doar porque já doei”. Além dessas justificativas, inúmeras outras são ditas pela maior parte da população. Mas, e você o que pensa sobre a doção de medula óssea? Já doou algum dia? Pretende fazê-lo?
A recepcionista Loudes Maria de Oliveira é uma jovem que se preocupa muito com a saúde. Mesmo trabalhando o dia inteiro e almoçando fora todos os dias, ela segue uma dieta balanceada. Para Lourdes saúde é “o bem mais valioso que uma pessoa pode ter”. Por isso, a recepcionista tem o hábito de ler tudo o que vê sobre saúde na internet. Perguntada sobre qual doença ela mais teme um dia desenvolver ela foi enfática “qualquer tipo de câncer, em especial, a leucemia”.
Leucemia é uma espécie de câncer que afeta a composição sanguínea. Esta doença provoca um desarranjo no sistema imunológico humano, ocasionando excessiva produção de células brancas, superpovoando a medula óssea. Lourdinha, como é chamada a recepcionista por seus colegas de trabalho, afirma já ter lido textos sobre o tratamento da leucemia. “Quando os tratamentos tradicionais (radioterapia e quimioterapia) fracassam e o paciente não obtém melhora do quadro através da medicação, é necessário fazer um transplante de medula óssea”, aponta. Por essa razão, ela reconhece a importância da doação de medula óssea. “Eu sei que doando uma medula a pessoa que o fizer pode salvar a vida de alguém que esteja sofrendo em qualquer outro canto do mundo. Mas, confesso que ainda não tive coragem de doar. Tenho muito medo da dor”, afirma.
Inúmeras pessoas compartilham da mesma opinião que Loudes Maria de Oliveira, o que poucos sabem é que para doar uma medula não é necessário tanto sacrifício, não é tão dolorido assim. Assim, para sanar essas e outras dúvidas, conversamos com Aline Boaventura, enfermeira da Hemoclínica de Brasília. Formada pela Universidade de Brasília (UnB) e atuante no ramo há 8 anos, Aline responde às perguntas feitas e desmistifica vários mitos inventados pela população brasileira.
Qual a maior dúvida do doador?
Bem, a maior dúvida é em relação de onde será retirado o tutano. Muitos confundem Medula Óssea com Medula Espinhal e acham que lesionaram a espinha com a doação. Esse é o maior dos medos e o maior dos mitos.
Qual a diferença entre medula óssea e medula espinhal?
Enquanto a medula óssea, como descrito anteriormente, é um tecido líquido que ocupa a cavidade dos ossos, a medula espinhal é formada de tecido nervoso que ocupa o espaço dentro da coluna vertebral e tem como função transmitir os impulsos nervosos, a partir do cérebro, para todo o corpo.
E como é o transplante?
Antes da doação, o doador faz um exame clínico para confirmar o seu bom estado de saúde. Não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho ou alimentação. A doação é feita por meio de uma pequena cirurgia, de aproximadamente 90 minutos, em que são realizadas múltiplas punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia e é aspirada a medula. Retira-se um volume de medula do doador de, no máximo, 10%. Esta retirada não causa qualquer comprometimento à saúde.
Quais os riscos para o doador?
Os riscos são poucos e relacionados a um procedimento cirúrgico que necessita de anestesia geral, sendo retirada do doador a quantidade de medula óssea necessária (menos de 10%). Dentro de poucas semanas, a medula óssea do doador estará inteiramente recuperada. Uma avaliação pré-operatória detalhada avalia as condições clínicas e cardiovasculares do doador visando a orientar a equipe anestésica envolvida no procedimento operatório.
Então pode-se doar a medula óssea mais de uma vez?
Com certeza. Tal como o sangue, a medula pode ser doada várias vezes. Se existirem mais de um receptor compatível, pode-se fazer a doação quantas vezes forem necessárias e, porém, num prazo de três meses entre uma doação e outra.
A doação é dolorosa?
Um dos mais comuns receios, que acaba por inibir as pessoas de se inscreverem neste banco, é a ideia errada de que esta doação implica uma dolorosa obtenção da medula óssea do doador. A doação é feita sob efeito de anestesia, ou seja, não dói nada na hora da doação. Após isso a área da doação fica roxa e com um pequeno hematoma, com dor apenas sensível ao toque.
Quais os pré-requisitos para ser doador?
Ter entre 18 e 55 anos e disposição para salvar uma vida.
Esclarecidos as verdades e mentiras sobre a doação de medula quem sabe Lourdes Maria, assim como Joaquim, João, Luana, Pedro, Amanda, Leandro, José e tantos outros brasileiros, como você, deixem os receios de lado e cadastrem-se nos bancos de doadores de medula óssea. “Salve uma vida você também”.
Por Catharine Xavier Rocha e João Paulo Biage