
Uma cura possível para a leucemia
Pesquisadores buscam conhecer as causas e prevenção da doença
Com o passar dos anos, os avanços das técnicas médicas permitiram ampliar os casos de cura envolvendo pessoas acometidas pela leucemia. Nos anos de 1970, o número de pacientes livres do mal beirava os 5%, atualmente a recuperação dos leucêmicos gira em torno dos 80%*, seja por via de tratamentos a base de medicamentos, ou, em ultima instância, quando não respondem bem aos remédios, por meio do transplante de medula óssea.
Esses números tendem a melhorar se os estudos realizados por dois pesquisadores mantiverem os bons resultados até agora aferidos. Já é possível vislumbrar no futuro a elucidação das causas da leucemia e, em uma perspectiva mais otimista, sua cura total e prevenção.
A química brasileira Juliana Oliveira, pesquisadora do Laboratório Nacional de Luz Síncroton – LNLS, desenvolve experimentos para mapear a função da proteína SBDS humana, envolvida na rara síndrome Shwachman-Diamond (SDS). Seus portadores têm predisposição para desenvolver leucemia. Em entrevista ao Jornal da Ciência, Juliana salienta que aparentemente a SBDS só está relacionada com problemas hematológicos, mas não com outros tipos de câncer. “Uma das características clínicas da doença SDS é a disfunção na medula óssea, que causa anormalidades hematológicas, como anemia e leucemia, entre outras”, afirma. Contudo, Juliana deixa claro que outros problemas podem estar envolvidos com a SBDS. “Mas não se pode descartar a possibilidade da relação desta proteína com outros tipos de câncer, uma vez que a síndrome SDS também causa problemas no pâncreas exócrino e má formação óssea”, explica.
O caminho para um tratamento da leucemia, seguindo essa linha de pesquisa, passa pelo campo da medicina biogenética, não excluindo a utilização de células-tronco na terapia.
Outra importante pesquisa científica foi divulgada recentemente pelo jornal Correio Braziliense, na sua edição do dia 02 de abril de 2009, em que traz a matéria sobre os estudos realizados pelo pesquisador britânico, Anthony Ford - do The Institute of Cancer Research, em Sutton (Reino Unido). Ford acredita que a leucemia desenvolvida por crianças está relacionada ao mau funcionamento de uma molécula (TGF), presente no organismo humano.
Em condições normais, essas moléculas agem como reguladoras da reprodução das células no nosso organismo. Mutações ocorridas ainda no período uterino fariam com que essas moléculas permitissem que células pré-leucêmicas se multiplicassem na medula, abrindo espaço para a consolidação de um câncer.
A molécula TGF agiria como uma bomba relógio, podendo ser acionada com a simples exposição da criança a infecções rotineiras. Quando uma infecção acomete uma criança entre os 3 e 5 anos de idade, o sistema imunológico libera a TGF, induz a proliferação das células pré-leucêmicas e permite que um segundo evento genético ocorra, ocasionando a leucemia.
Ford acredita que uma infecção possa ser o gatilho para que as células pré-leucêmicas se tornem leucêmicas. O que reforça sua tese são estudos anteriores realizados por ele em crianças que passavam o dia em creches e estavam, teoricamente, propensas a infecções.
Hipoteticamente, a exposição de um bebê a uma infecção o protege contra a leucemia, mas se essa exposição for adiada até os 3 ou 4 anos, e se essa criança sofreu a mutação da molécula TGF, ela pode ativar a doença. Caso os modelos experimentados por Ford estejam corretos, existe a real possibilidade do desenvolvimento de uma vacina que, dada aos bebês, reduziria o risco de desenvolvimento de uma leucemia.
Tanto a pesquisa da brasileira como a do inglês ainda têm muitos estágios a serem superados, mas demonstram que existe a possibilidade da doença ser vencida antes de se instalar. Assim, milhares de pessoas seriam poupadas do rigoroso tratamento clínico ou cirúrgico, no caso do transplante de medula óssea, em que encontrar um doador compatível é uma verdadeira loteria.
Por Bruno Dantas e Cleyton Caetano
* Fonte: Centro Infantil Boldrini